Os 80 minutos

19:00


Quando a fome bate não tem quem segure o estômago de roncar. Parece que na praia a fome chega mais rápido, principalmente depois de pegar uma onda. Mentira, não peguei onda, fiquei mesmo na areia olhando a galera se divertir na água. Mesmo assim, ao meio dia eu já estava a caminho do meu famoso "rango"Juquehy tem diversos restaurantes deliciosos. Na praia mesmo tem o Chapéu de Sol e o Badauêque são especializados em petiscos.  
Mesmo assim, resolvi experimentar um restaurante novo com “100 anos de tradição familiar”. Não, eu não sabia isso decor. Na realidade, vi uma placa com esses dizeres e logo em seguida o nome: “Nivio’s”. O estômago deu mais uma roncada e meu olhar correu para as mesas. Todas cheias. Pareceu um ótimo lugar para matar minha fome. 
Sentei em uma mesa em baixo de uma árvore e esperei ser atendida. Uns dez minutos se passaram até que um garçom veio marcar o pedido. Abri o cardápio e meu coração quase saiu pela boca. Que. Preço. Era. Aquele?! Nunca imaginei que um prato executivo poderia custar quase 40 reaisQuase virei e perguntei se o moço, que era a cara do Felipe Dylon, ia cantar Musa Do Verão para mim enquanto eu comia. Infelizmente minha cara de chocada não foi ignorada por quem me acompanhava, vulgo minha amiga Mariana Ela, com a maior naturalidade do mundo, me disse que em alguns restaurantes da praia o preço médio era aquele. Por que na praia o preço tem que ser mais alto que a cidade? Não faz sentido um prato de peixe custar mais caro na praia, o mar é logo ali. São Paulo talvez não tenha amor humano, mas pelo menos amor ao meu bolso.
 

Superado o choque dos preços, fizemos nossos pedidos. Pedi um executivo de frango à parmegiana enquanto Mariana pediu executivo de peixe. Nosso refrigerante, uma coca-cola normal de dois litros, chegou logo em seguida. Coloquei o primeiro copo já imaginando aquele refrigerante gelado, aquele copo trincando. Olhei para o relógio, 13h.  
Papo vem, papo vai e nada de nossa comida. Meu estômago deu o ar da graça e me lembrou que já estava na hora de abastecê-lo. Olhei o relógio: 13h30. Tudo bem, meia hora não era tanta demora para um prato, logo iria chegar, certo? Olhei para o copo de refrigerante suando. Vi uma gota de água escorrer o copo todo e chegar até a mesa de plástico. Dei um gole. Já estava ficando quente. E foi nessa imagem do copo suando que me deixei levar e acabei lembrando da vez que fui para Natal com meus pais. Pedi uma batata frita. Ela demorou 1h30 para ser servida. Não, aquela não seria uma repetição desse ocorrido. Eu não estava em Natal, eu estava em Juquehy. Casos como aquele não iriam se repetir tão facilmente.  
13h45.  
Tudo bem, minha fome começou a aumentar. 45 minutos de espera para chegar o prato. Se no horário do almoço existe uma grande quantidade de pessoas no restaurante, por que eles não deixam as coisas meio encaminhadas? Arroz já feito, feijão preparado, frango já cozido... Desta forma tudo seria mais rápido. São em situações como esta que sua mente te faz imaginar coisas estranhas... Olhei para as pessoas da mesa do lado que já estavam apreciando seu prato. “Quanto tempo faz que essas pessoas chegaram aqui?”. Se eles já estavam comendo, pelo menos 45 minutos eles tiveram de espera. Pensei em ir até lá e perguntar. Desisti 
14h.  
Meus olhos piscavam algumas vezes enquanto eu voltava a dar um gole em minha bebida... quente. Um dia ela foi gelada. Olhei para a rua e vi um casal entrando no restaurante. Será que eu devia avisar que estou há uma hora esperando meu prato? Os encarei por alguns minutos e comecei a calcular, involuntariamente, que horas eles iriam começar a comer o que nem haviam pedido ainda. No final, eu e Mariana acabamos fazendo uma aposta.  
14h15. 
Alguém pergunta para o cozinheiro que horas que isso sai, vou dar um mergulho e já volto. Mentira. 
14h20.  
Felipe Dylon, vulgo o simpático garçom que estava nos servindo, trouxe nossos pratos. Por alguns segundos pensei em ajoelhar e gritar: “OBRIGADA IEMANJÁ. O prato era bem grande, como o esperado e estava com uma cara deliciosa. Dei a primeira garfada e comprovei o que suspeitava: a comida era muito boa. Não tinha nada que não estivesse gostoso naquele prato, e isso com certeza valia de prova dos 100 anos de tradição. A única coisa que me perturba é a espera de uma hora e vinte minutos para receber o pedido. Não é justo que as pessoas saiam do restaurante lembrando quantas horas tiveram que esperar, invés de maravilhoso prato que acabaram de experimentar.  
       
 

Até agora não sabemos quem ganhou a aposta, eu ou Mariana. Saímos do restaurante 15h20 e o casal ainda não estava com sua comida.   

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